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Informações de Pior início do Brasil no Mundial de surfe em 16 anos liga o alerta; veja análise dos brasileiros no Havaí

Pior início do Brasil no Mundial de surfe em 16 anos liga o alerta; veja análise dos brasileiros no Havaí

É a 1ª vez desde 2007 que país não tem um surfista entre os dez primeiros do ranking após duas etapas disputadas: Pipeline e Sunset. Próxima parada do tour traz esperança para recuperação

23/02/2024 ás 13:59:00

Fonte: Por Diogo Mourão — Rio de Janeiro

Confesso que estou até meio perdido depois das etapas do Havaí que abriram a temporada de surfe em 2024. Minha vontade era fazer um texto sobre o que mais impressionante aconteceu em Pipeline e Sunset: o desempenho das meninas/mulheres, que deixou a comunidade do surfe de queixo caído. O que fizeram Molly Piklun, Bettylou Sakura Jones e Caitlin Simmers nessas etapas entrou para a história do surfe feminino. Picklun, por exemplo, fez a melhor manobra de Sunset e talvez a maior de todos os tempos entre as mulheres em competição, na semifinal.

Porém, estamos no Brasil e não tenho como fugir da pífia participação brasileira na perna havaiana. Fui buscar a informação de qual tinha sido a última vez que o Brasil não contava com surfista algum entre os dez primeiros depois das duas etapas iniciais de uma temporada. E deu trabalho. O site da WSL só tem informações até 2010, mas descobri que isso aconteceu pela última vez em 2007.

 

Seria o fim da tempestade brasileira?

 

Calma, ainda não é para tanto. Precisamos analisar algumas peculiaridades desta perna havaiana. Para começar, não podemos ignorar que Filipe Toledo, campeão em Sunset em 2023 e sempre forte nessa etapa, praticamente não disputou Pipe e resolveu se afastar das competições. Perdemos ainda João Chianca nas duas etapas em que brilhou intensamente ano passado. Estamos falando do bicampeão mundial e o quarto colocado na temporada passada.

De qualquer forma, é fato que o melhor resultado foi o quinto lugar em Sunset do Italo, que ocupa a 13ª colocação. Já foi um passo à frente, pois em Pipe nem ao Final Day chegamos. Italo, por sinal, foi a melhor notícia da perna havaiana. Surfou bem em Pipe, mas sofreu com a inconstância do mar e tomou a virada de Jordy Smith no final. Em Sunset, foi consistente, fez ótima bateria contra Jack Robinson (terceiro melhor somatório das quartas-de-final), mas o australiano estava muito conectado com o mar, imparável mesmo, e levou a melhor. Agora com um treinador full time, o havaiano Rainos Hayes, o campeão olímpico tem tudo para voltar a brigar no topo do ranking.

A situação no ranking é preocupante e exige recuperação em Portugal, para não chegar na Austrália pressionado demais pelo corte. Apenas Italo e o Yago Dora, em 17º lugar, escapariam da guilhotina agora. No feminino, Tatiana Weston-Weeb e Luana Silva fizeram um quinto e um nono e estão entre as dez que escapariam do corte. Porém, apesar de uns lampejos da Luana, não mostraram surfe suficiente para fazer frente às principais surfistas das duas etapas. A favor de nosso time é que a etapa portuguesa, em Supertubos, tem um retrospecto bom para os brasileiros.

Como explicar que aconteceu com os brasileiros no Havaí? Não tenho uma resposta. Tanto em Pipe quanto em Sunset, nos dias do maior número de derrotas, o mar estava bem difícil, quase loteria, meio banguçado. O segundo dia de Sunset foi um exemplo muito claro. O prazo estava ficando apertado e o terceiro e quarto rounds foram disputados com ondas grandes, potentes, mas com swell muito misturado. Encontrar uma onda boa fazia a diferença na bateria e podia determinar o resultado.

Cenário também parecido com Pipe, mas o mar estava difícil para todos e a sorte passa a ser um fator também importante. Nosso time teve bons momentos, mas muitas vezes faltou uma segunda onda ou pegamos adversários duros. Em Pipe e Sunset, por exemplo, o líder John John Florence eliminou DVD e Miguel Pupo, respectivamente.

E não trago boas notícias. Como os brasileiros não estão bem no ranking, os duelos pesados acontecerão cada vez mais cedo nas próximas etapas. Vencer a bateria do primeiro round poderá ser um caminho para tentar escapar das pedreiras pelo menos no round de 32, aquele que se perder o surfista fica no famoso décimo-péssimo. Além disso, haverá a pressão do corte e ainda a possibilidade de duelos caseiros que poderão complicar ainda mais a nossa situação.

A questão me deixa com muitas dúvidas e fui pedir ajuda de quem entende: Pedro Robalinho, técnico brasileiro que treina o havaiano Imaikalani deVault e faz análises na SurfTV, e Marcelo Bôscoli, comentarista do programa “Por Dentro do Tour”, e Bruno Bocayuva, uma enciclopédia do surfe mundial e comentarista no Sportv.

- É surreal olhar o ranking e ter de rolar a tela e só ver a bandeirinha brasileira lá na 13ª posição. Fiquei chocado. Continuo achando que é circunstancial, mas temos de pontuar que Filipe, defensor do título em Sunset, e João, ótimo no Havaí, fizeram falta. Para os outros principais nomes têm faltado regularidade. É preocupante, mas este recorte ainda é pequeno. Temos um bom histórico em Portugal e o quadro pode ser melhorado lá. Bells é difícil e Margaret é traiçoeira. Oremos e esperemos - disse Bocayuva.

- Assisti a muitas baterias da praia e a maioria surfou bem. Acho que o principal problema foi que o round de 32 nas duas etapas foram disputados em condições em que a sorte contou muito. Essa nova geração que chegou, junto com os atletas que voltaram depois do corte, tornaram o circuito ainda mais forte e equilibrado. Acho que foi ocasional - avaliou Robinho.

- Para começar, não contamos com os dois surfistas que terminaram no top 5 ano passado, Filipinho e Chianca. E seriam nossos melhores surfistas em Sunset. Os outros, incluindo Medina e Italo são bons lá, mas não são ótimos como Jack Robinson e John John, por exemplo. Em mares selvagens, esses caras, assim como o Chianca, conseguem se destacar mais mesmo. Porém, acho que é uma coisa de momento, principalmente quando se fala de Medina e Italo. A nova geração brasileira me preocupa um pouco mais, temo que fiquem com papeis coadjuvantes - comentou Bôscoli.

 

Vamos às “atuações”

 

Italo Ferreira (5º) - Melhor brasileiro no ranking e nas duas etapas, Italo fez um bom campeonato em Sunset. Em todas as baterias conseguiu ao menos uma nota acima de sete e obteve vitórias consistentes. No primeiro round, passou em primeiro com 13 pontos, com um 7,67, deixando o havaiano Ian Gentil em segundo e o australiano Jacob Wilcox em terceiro. No difícil round de 32, marcou 7,17 e 5,17 para superar Crosby Colapinto por 12,34 a 9,03. Nas oitavas, achou um tubo 7,00 para garantir a vitória sobre o português Frederico Moraes (13,23 a 12,07). Na sua melhor bateria, fazia uma disputa bem equilibrada contra o campeão da etapa, mas, segundos depois de conseguir um 8,10 e assumir a liderança, Robinson começou seu recital e marcou 9,77 para vencer por 17,37 a 15,60.

Miguel Pupo (9º) – Fez uma boa bateria na estreia, inclusive com um 8,27, mas Jordy Smith já dava sinais de que estava inspirado em Sunset e marcou um 9,33 para vencer por 15,50, contra 13,77 de Miguel e 10,93 de Samuel Pupo, que foi para a repescagem. Na loteria do round de 32, não deu chances a Imaikalani e avançou com 11,00 contra 6,30. Nas oitavas pegou um dos melhores surfistas do mundo em Sunset, John John Florence, e a obrigação de buscar notas altas o fez arriscar e errar muito. Enquanto isso, JJ achava ondas com facilidade e venceu por 16,06 a 8,83.

Luana Silva (9ª) – Surfando em casa, a brasileira que cresceu no Havaí começou bem, vencendo a bateria de estreia, com 8,60, deixando a campeã de Pipe, a americana Caitlin Simmers, em segundo, com 7,40. A australiana Sophie McCulloch foi para a repescagem. Na fase seguinte, até começou bem contra a americana Lake Peterson, com um 5,33, num mar que estava mais bonito do que bom, com ondas curtas e com pouca parede. Ficou esperando uma onda melhor por séculos e viu a adversária assumir a liderança, mesmo sem prioridade. No fim, 9.66 a 6,40 para a americana.

Tatiana Weston-Weeb – Sofreu com as ondas deitadas e com pouca parede para a direita e, assim como em Pipe, começou mal e teve de disputar a repescagem, terminando em terceiro (8,87), em bateria totalmente dominada por Bettylou Sakura Jones, um dos destaques do campeonato, que venceu com 14,04 (uma nota 9,17) e India Robinson (12,03). Na repescagem, numa disputa bem fraca, passou em segundo, com 6,73, atrás de Alyssia Spencer (7,76), mas à frente de Zoe McDougall, que marcou somente 4,53. Na fase seguinte, justamente quando conseguiu sua única onda acima de cinco (6,00), acabou eliminada pela francesa Johanne Deffay por 11,23 a 10,77.

Caio Ibelli (17º) – Começou bem e parecia que iria confirmar a fama de bom surfista em Sunset, depois de um quinto em 2023 e um terceiro, em 2022. Venceu a bateria de estreia, que contava com a presença de Barron Mamiya, campeão de Pipe e vencedor em Sunset em 2022. O brasileiro foi consistente e com duas notas na casa dos sete pontos, marcou 14,17, deixando Kelly Slater em segundo com 12,40, e Mamiya em terceiro, com 6,14. No bagunçado mar do round de 32, fez bateria equilibrada, mas faltou uma onda melhor e perdeu para o australiano Liam O’Brien por 12,77 a 11,54. Depois de dois anos praticamente se garantindo nas duas primeiras etapas do ano, deixa o Havaí muito ameaçado pelo corte.

Yago Dora (17º) – Saiu da água xingando o mar de Sunset e tinha motivos para estar irritado. Na primeira bateria, avançou em segundo, mesmo com uma onda 2,50 em seu somatório de 8,17. O japonês Kanoa Igarashi foi o primeiro, com 11,00, e Frederico Moraes ficou com 7,84 e foi para a repescagem. Perdido no round de 32, não chegou a ameaçar o inofensivo Rio Waida, que venceu por 10,03 a 7,46.

Gabriel Medina (17º) – Maior surpresa negativa da perna havaiana, o tricampeão não tem um grande histórico em Sunset, mas esperava-se mais dele. Já na primeira fase, terminou em terceiro em foi para a repescagem ao marcar 10,60, contra 12,60 do sul-africano Matthew McGillivray e 13,27 do havaiano Eli Hanneman. Na repescagem, parecia ter se reencontrado, com vitória tranquila. Marcou 13,83, enquanto Samuel avançou em segundo com 10,96 e o havaiano Keanu Asing foi eliminado com 9,60. No round de 32, impressionou a passividade do brasileiro, que marcou apenas 8,33, perdendo para o havaiano Seth Moniz, que passou com 11,34. Deixa o Havaí num inimaginável 26º lugar do ranking.

Samuel Pupo (17º) – Na bateria inicial, foi coadjuvante na bateria vencida por Jordy, com o irmão Miguel em segundo. Na repescagem, avançou em segundo na vitória de Medina. Regular e com bom histórico em ondas pesadas, não chegou a surfar mal, mas encarou Jordy, que também é muito bom nestas condições e tem mais experiência em Sunset. Vitória do Jorjão por 12,16 a 11,33.

Deivid Silva – Estreou em bateria que tinha o campeão Jack Robinson, que venceu com 12,00, e Crosby Colapinto, segundo com 10.03, enquanto ele marcou 8,47. Na repescagem, se salvou em segundo, com 8,24, atrás de Ian Gentil (13,00), mas à frente do marroquino Ranzi Boukhiam (4,53). No round de 32, como em Pipe, teve de encarar John John e não teve chances, mesmo num mar com condições bem ruins. JJ venceu por 10,60 a 8,03.

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