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Informações de Desbravadora na América do Sul, Emily Lima comanda estruturação da seleção feminina do Peru

Desbravadora na América do Sul, Emily Lima comanda estruturação da seleção feminina do Peru

Acumulando funções de técnica e coordenadora no país, brasileira revela que recusou convite da CBF para coordenação ano passado:

19/02/2024 ás 15:58:00

Fonte: Por Allan Caldas — Lima, Peru

Com 30 anos dedicados ao futebol, entre jogadora e técnica, Emily Lima vive um momento especial na carreira. A brasileira acaba de assumir a coordenação de seleções femininas na Federação Peruana de Futebol, sem deixar de fazer o que mais gosta. Ela vai acumular a nova função com o trabalho de treinadora, com o objetivo de estruturar a modalidade no país.

- Eu gosto disso, é uma ideia que eu tenho para o futuro, então eu conversei com a minha comissão: "Vamos nessa, vamos deixar algo maior?". Hoje existe uma estrutura de futebol feminino dentro da Federação Peruana, isso é algo que já conseguimos criar e deixar como legado - afirmou Emily em entrevista ao ge, por videoconferência, de Lima.

A treinadora de 43 anos, primeira mulher a dirigir o Brasil, entre 2016 e 2017, foi convidada para retornar à CBF em agosto do ano passado, quando a seleção feminina passou por uma reestruturação após a Copa do Mundo. A proposta era para ela ser coordenadora de seleções, justamente a função que exercerá agora no Peru. Pensando em seu plano de carreira, ela escolheu permanecer no país andino.

Eu não poderia deixar naquele momento a seleção peruana para um outro cargo dentro da CBF. Não é o meu momento ainda. Acredito que eu tenho ainda um certo tempo aqui para depois dar um outro passo à frente.

— Emily Lima, treinadora da seleção peruana feminina

 

Sete vitórias e cinco derrota na seleção brasileira

Mesmo tendo ficado menos de um ano na seleção brasileira - com sete vitórias, cinco derrotas e um empate -, Emily considera aquele período enriquecedor profissionalmente.

- Eu não tenho nenhuma mágoa, foi um momento da minha vida que me fez crescer muito como profissional e como mulher. Aquilo não foi nem o início nem o final da minha carreira, foi só um momento que eu tentei aproveitar ao máximo possível. Foram momentos incríveis, competitivos, de estar jogando em alto nível, que eu espero voltar a viver, na seleção brasileira ou em outros lugares.

Quando foi contratada pela Federação Peruana de Futebol (FPF), há nove meses, Emily sabia que encontraria um nível ainda iniciante de profissionalização do futebol local. Uma situação que ela conhece bem na América do Sul, após dois anos como treinadora da seleção do Equador, entre 2020 e 2022. Ano passado, ao ver sua ex-equipe conseguir seis vitórias nos nove amistosos disputados, teve a convicção de que o trabalho realizado estava dando frutos. Resultado que ela espera repetir no Peru.

- A gente fica contente deixando a seleção equatoriana com uma grande estrutura. Não igual à realidade masculina, mas para a realidade feminina. Hoje tem um departamento um pouco mais organizado, com uma coordenadora só para a feminina, um departamento de análise de desempenho que nós deixamos.

Para Emily, o crescimento do futebol sul-americano pode ajudar até mesmo a seleção brasileira no cenário internacional.

- A gente ter que ter muito mais trocas. Se a gente potencializa as seleções sul-americanas, vai potencializar a Copa América e vai melhorar o nosso rendimento em outras competições. É o que eu penso.

No Peru, Emily encontrou as dificuldades comuns à maioria dos países no continente. Uma realidade comparável com sua época de jogadora no Brasil.

- As discussões que temos aqui, hoje, na Federação, na Liga, e isso aconteceu também no Equador, eu me vejo como há 15, 20 anos atrás, pode se dizer até na década de 90. Nós não tínhamos muitos parâmetros, hoje temos parâmetros muito bons, que se desenvolveram, e nós ficamos estacionados, ainda discutindo as mesmas coisas de 20 anos atrás. Na América do Sul, o Brasil destoa demais das outras seleções.

Emily Lima conversa com a preparadora física da seleção peruana, Liliane Cruz — Foto: Divulgação/FPF

Seleção peruana não vence desde 2006

Embora tenha contrato até 2026 com a FPF, Emily tem um planejamento a longo prazo para tornar a seleção do país minimamente competitiva. Sem falsas promessas, ela avisou aos dirigentes e à imprensa do país, em entrevista coletiva semana passada, que serão necessários dois ciclos de trabalho - ou oito anos - para que a equipe possa começar a sonhar com uma classificação inédita para a Copa do Mundo ou Olimpíadas.

A temporada 2024 começou nesta segunda-feira para a seleção peruana, com o início dos treinos para os amistosos da Data Fifa de fevereiro, dias 24 e 28, contra a Bolívia, em Santa Cruz de la Sierra. Em abril, outros dois amistosos já estão marcados, ambos contra a Costa Rica. Uma das seleções femininas mais fracas da América do Sul, o Peru vive um jejum de 17 anos desde a última vitória, um 2 a 1 sobre a Bolívia, em novembro de 2006, pela Copa América. Desde então, já são 32 derrotas e seis empates. Com Emily, a seleção perdeu os sete jogos disputados em 2023, com apenas um gol marcado.

- Claro que a gente busca vitórias, mas é muito difícil. Quando a gente vai jogar contra Chile, Argentina, são seleções que estão mais desenvolvidas, isso dificulta muito. Nós estamos trabalhando para que na próxima Data Fifa a gente já consiga fazer um bom trabalho e que o resultado venha para nos ajudar.

O objetivo mais imediato é tentar, em 2025, voltar a disputar a fase de mata-mata da Copa América. A seleção peruana foi eliminada na fase de grupos nas últimas cinco edições, desde 2006.

- A gente quer chegar na Copa América, buscando uma repescagem. A gente vai trabalhar esse ano de 2024 para isso, classificar em terceiro do nosso grupo.

Emily Lima conversa com as jogadores em treino da seleção peruana — Foto: Divulgação/FPF

Com a missão de preparar o futebol feminino peruano para o futuro, ela pediu à federação local para contratar mais profissionais do país para as seleções de base e algumas funções na principal. Apenas a sub-20 conta com outra brasileira no comando, Jaqueline Ucella, que é também sua auxiliar na principal.

- Se estamos falando de oito anos, então eu preciso formar peruanos para as seleções. Não adianta eu trazer gente do Brasil. Essa não é a ideia. Meu contrato acaba em 2026. Posso renovar, mas e se não renovar? A ideia era usar as pessoas que aqui estavam. Ficamos de setembro a janeiro estudando como poderíamos trabalhar com essa visão de oito anos e montamos a estrutura.

"A gente sugou muito pouco da Pia"

Quando planeja o seu próprio futuro, Emily não se vê eternamente como uma "desbravadora" do futebol feminino sul-americano. Voltar a sentir a adrenalina de disputar títulos está no horizonte. Mesmo que ainda pense em um retorno à seleção brasileira, ela não quer adiantar processos. Por isso, se sentiu confortável para negar o convite da CBF ano passado.

- O presidente (Ednaldo Rodrigues) me ligou e disse: "A gente está com a ideia de te trazer para a coordenação de seleções". Então, eu falei: "Presidente, não é o meu momento, eu quero ser treinadora ainda". Penso ainda em uns oito, dez anos, estar como treinadora, e quem sabe mais para a frente fazer o que eu estou fazendo aqui.

Mesmo de longe, Emily acompanhou o último ciclo da seleção brasileira, sob o comando de Pia Sundhage, e espera que a CBF saiba tirar proveito do trabalho da sueca, especialmente fora de campo.

- Eu acredito que a gente sugou muito pouco da Pia, não só como treinadora. Ela é uma grande gestora, uma grande coordenadora de equipes. O que foi feito na Suécia e nos EUA quando ela esteve? O que nós, como CBF, como seleção brasileira, o que foi feito para entender as ideias e tentar diminuir esse espaço (para a Europa)? É o que eu busco fazer aqui (na seleção peruana): trazer conhecimento, para deixar aqui coisas boas e eles possam se desenvolver. Essa é uma mentalidade de crescimento.